29 de abril de 2012

59.

A realidade é amarga,
 mas é a única que mata a sede. 

 Desculpe, mas não consigo falar de amor. Não consigo dedicar linhas e linhas a esse sentimento porque sinto que algo bem maior está acontecendo a todo o tempo e poucos notam... A vida está acontecendo, você percebe? Eu não quero vir aqui e contar uma história fictícia e bonita de um amor que talvez nem exista porque há algo maior e gritante que poucos escutam, que poucos veem.
É a vida acontecendo, você percebe? E eu não consigo passar um dia sequer sem perguntar sobre o sentido de tudo isso, sobre os motivos de tantas coisas, sobre as respostas de tantos por que's.
Procuro o sentido que não existe no mundo que é real e incontestável; tantas guerras, tanta fome, tanta injustiça, tanto sofrimento; sim, o amor é a saída, o amor é a solução, mas ignorar todo o resto e pensar que a vida é só viver um romance... Não, isso não. Precisamos sonhar com os pés no chão.
Nas noites difíceis desejei morar em um sonho, mas percebi que a realidade me seguiria aonde fosse, pois pertenço a ela, dela vim, nela morrerei.

Não tão firme, não tão forte, 
mas aqui vou eu, 
pois como diz o poeta: 
"E é isso a que se chama um vivente: 
um pouco de carne oferecida à agressão do real."

24 de abril de 2012

58.

Estação dos sonhos.

 Olhem o que está passando! É o trem da vida!  Disse um homem apressado, com paletó e chapéu na mão.
A garota, em pé, apenas o acompanhou com os olhos, depois voltou o olhar para frente, estática, com sua mala erguida - na altura dos joelhos - no encontro das mãos.
Faz anos que ela deixa que esse trem, todas as manhãs, passe e faça com que ela tão somente exista, ali, parada nessa estação onde milhares de pessoas todos os dias passam: algumas voltam, outras nunca mais são vistas.
Alguns chamariam aquilo de vida, mas vida é o trem, vida é estar em movimento, vida é não saber o destino, mas saber que se está indo em busca dele!
E depois descobrir que viver consistia, sim, na viagem e não na chegada e que no destino não existe mais nada se não o precipício onde os trilhos acabam.