14 de setembro de 2012

64.


Os dias seguem abominavelmente patéticos, tão pequenos e feios que até o sonho se moldou assim. Por esse motivo, à noite, entregue ao sono, não mais possuo o bom sonho como instrumento de fuga da realidade que carrego nos ombros.
O preto-e-branco foi tomando conta do cenário, que já não era provido de muita cor, e então, numa tarde dessas, num vazio desses    me alcançou.

Estou quase sem cor por inteiro, a região onde nascem os devaneios persiste, assim também o coração e os olhos. Mas todo o resto já foi tomado e a força já não existe. Nem mesmo as lágrimas resistiram  nenhuma expressão da dor, apenas a dor, seca e fria.

E na ânsia de não partir desse mundo tão belo    quem escreve nunca está sozinho, ouvi dizer    tento-me encher o quanto posso de saberes. Mas quanto mais sei menos sei e acabo concluindo que não há verdade concreta alguma pra se saber, apenas milhares de supostas verdades e milhões de possibilidades que devem mesmo ser a origem da insanidade do homem.

Houve uma época    não tão longe quanto a palavra "época" faz soar    em que escrevia boas poesias com uma constância considerável. Era acolhedor aquele sentimento de ter transformado o incomodo em pérola, mas então pensei: Talvez chegue um tempo em que eu seque.

E sequei.
***
A ultima gota de tinta colorida sumiu.
Era todo preto e branco o quadro, já não mais se via colorido algum. Assim na alma, assim nos devaneios, assim nos olhos, no coração, assim nos que tanto lutaram e lutando desfaleceram.
O desenho do poeta no quadro sumiu, e reapareceu em um outro patético, feio e seco. Chamavam o lugar que compunha o cenário de "vida comum", "realidade pura", "comodismo". Mas suponho, amigo, e creio que irás concordar comigo: aquele era seu inferno, para o qual infelizmente estava vivo.

9 de setembro de 2012

Sobre as coisas que não são.

Sabe aquele momento quando a chuva passa e a água acumulada nos telhados das casas caem? É como se continuasse chovendo, mas não chove.
Sabe aquele momento quando estamos rindo feito idiotas de coisas idiotas? É como se fossemos felizes, mas não somos.
Minha vida é feita de pós-chuvas, de gotas que caem dos telhados das casas e não das nuvens, de sentimentos que parecem, mas não são.