31 de julho de 2011

30.

A superfície.

A vida é como o mar, e você é como uma criança aprendendo a boiar, tentando se manter na superfície, sobre-viver. Algumas coisas sentimentos, pessoas, momentos boiam com você, muitos afundam e ficam lá na memória. Às vezes até você se afunda na vida, depois, com muito esforço, volta para a superfície sem precisar de ajuda, fora tudo uma questão de equilíbrio, você foi a causa e a solução. Outrora você afunda porque algumas crianças estão se movimentando na água, fazendo ela cair nos teus olhos, tirando a tua paz, e então você se afasta. Mas quero chegar ao ponto em que a vida se transforma e de repente você está sobre a areia movediça não mais o mar , ela te puxa pra baixo, ela te suga, e é quando você não pode se ajudar, não pode apenas achar o equilíbrio ou se afastar. Você precisa que te ajudem a voltar para a superfície, mas nem sempre existe alguém disposto a te dar a mão, alguns preferem apenas te ver afundando, e se não quiser ser tragado pela vida, meu caro, torça para ter um galho por perto.

29.


Você não precisa ser tão colorida se não quiser, vida. Se prefere ser preta e branca, pelo menos seja poética. Não quero dias toscos e bobos, com palavras, vacilos e atitudes patéticas. Quero o que desse modo vazio e inerte é também doce, quero a aparência de um filme de drama, que sendo triste é belo. Pois se ainda não é hora (quem sabe um dia) de ter os meus sonhos realizados, apenas faça dessa espera algo aconchegante, mesmo sendo frio. Não me deixe sorrir demais, vida, quando eu estiver prestes a fazê-lo me mande algumas notícias ruins antes que eu ria como uma boba de coisas patéticas. Quero a ausência dessas pessoas estúpidas e ignorantes, prefiro a solidão do que a presença delas. Isso!, quero solidão, um livro e músicas, só preciso disso, o resto deixa comigo, eu faço da vida uma canção triste, algum prelúdio de Chopin com a presença irrefutável do piano, uma pintura da natureza seca, triste e sozinha, mas nem por isso disforme. Quero a beleza do silêncio, do canto dos pássaros e do balançar das folhas, pois não me importa se os dias são tristes, felizes, ou simplesmente vazios como de costume , quero que sejam belos, pois são momentos assim que nunca saem da lembrança, e se por acaso a felicidade não chegar eu terei a beleza para guardar na memória.

5 de julho de 2011

28.

"O quarto continua silencioso enquanto nós
todos tentamos lembrar tão dificilmente
como é se sentir vivo."

Lágrimas e espelhos.

Estava eu pensando, em uma noite de terça, enquanto o cansaço e a melancolia me abraçavam, entre lágrimas silenciosas e palavras estridentes que a boca não dizia, mas a mente gritava:

Meus dias são entediantes e cinzentos como retratos esquecidos que não relembram momento algum. Me olho no espelho e lágrimas caem, lágrimas vazias e que, apesar de serem líquidas, representam o caminho seco em que estou. Quando, de vez em quando, o otimismo bate a porta, penso que dias assim acabarão, que tudo vai passar, que algo bom haverá de acontecer em breve; outrora imagino que daqui a muitos anos me olharei em um espelho como esse e derramarei lágrimas secas e vazias como essas, meus cabelos apresentarão fios grisalhos e minha pele não será mais tão bela.

No espelho a minha imagem, a qual não reconhecerei facilmente. "O tempo passou", pensarei, mas não lembrarei de tê-lo sentido. A mulher no espelho me olhará e perguntará com deboche: "Ora, ora, mas o que fizestes da vida, minha querida? Que história tens a contar-me?" Mas nada sairá dos meus lábios, pois estarei a procura, por entre as paredes da memória, de alguma aventura ou amor veemente, mas só haverão uns poucos quadros agradáveis que com o tempo se tornaram entendiantes.

Coisa alguma eu responderei em pensamento – coisa alguma tenho para contar, coisa alguma vivi, e me parece que se passaram apenas alguns minutos desde quando eu pensei que tudo ficaria bem, mas os dias voaram e junto com eles os meses e os anos. E aqui estou eu no começo-do-fim do que nunca tive a coragem de realmente começar: A vida. Nunca gostei de desfechos, talvez porque no fundo sempre soubesse que, diferentemente dos filmes, a vida não reserva algo bom no final.