Fim do dia.
Atravesso mais um dia cheio, sem perder o vazio de sempre, é claro. Estou indo pra casa.
Veículo
— vento
— frio.
Engraçado, mas sinto como se algo fosse acontecer bem agora.
O céu está azul, ou violeta, não sei. Está anoitecendo.
Vejo rostos passarem rápido
— casas, ruas, vidas. Engraçado, mas sinto como se algo fosse acontecer bem agora. Como se um meteoro fosse cair logo a frente, como se o céu fosse se abrir e cavaleiros descerem dele, como se em um piscar de olhos eu fosse sumir, como se nunca tivesse feito parte desse cenário, ou até mesmo como se o cenário fosse mudar de repente, como se ele sempre estivesse lá.
Calor
— cansaço
— desejos. Engraçado, mas sinto como se algo fosse acontecer bem agora.
Mas nada acontece, você sabe. E assim são as minhas noites, manhãs e tardes: Um amontoado de horas em que nada vem.
Nada acontece. Nada acontecerá.
As pessoas estão caminhando para algum lugar agora e eu (nesse veículo controlado por um estranho) tento imaginar o que está se passando na mente de cada um ao meu redor:
O homem cantando e ouvindo música no carro cinza. A mulher esperando a hora certa de atravessar a rua. Três pessoas em um carro para apenas duas. O homem na bicicleta. A mãe e o menino.
Cada vida um universo,
cada universo uma dor.
Engraçado, mas sinto como se algo fosse acontecer bem agora. Já disse isso? Que seja.
Mas nada desceu do céu, nenhum meteoro, nenhuma explosão.
É apenas mais um dia
— cheio e ao mesmo tempo imensamente vazio
— que chega ao fim
para amanhã recomeçar.