25 de maio de 2011

12.

Lágrimas silenciosas.

Sinto as gotas d'água que caem do chuveiro rolarem pela a minha face, e é meio difícil perceber qual dessas gotas são lágrimas. Choro por coisas acumuladas e engolidas que vêm a tona quando tudo está cheio demais, choro por pessoas que machucam sem nem ao menos perceber, por pressão, e por não ter o extremo esforço reconhecido.

Mas quero esquecer tudo isso, então fantasio e penso que essa vida poderia ser apenas um longo pesadelo, desejaria acordar em um mundo totalmente diferente, e respirar aliviada por tudo ter voltado ao seu perfeito normal. Que nesse mundo não houvesse tristeza, nem dores indesejáveis, e que todos vivessem em plena harmonia. Uma sociedade sem sistemas, em que as pessoas fossem completamente livres, felizes, e amassem sem medo.

— Até que acordo dessa ilusão, é tão ruim acordar, bem melhor é sonhar, ótimo é viver, mas como não se pode ter tudo, aceito as fantasias. — Abafo o som do choro para que ninguém o escute e me encha de perguntas cujas respostas não serão compreendidas. A minha cabeça dói, os meus olhos doem, a minha alma dói também.

Sei que amanhã tudo passará e essas palavras não serão mais por mim inteiramente compreendidas. É como diz uma das minhas frases: Quando os sentimentos passam parecem estranhamente desconhecidos.

11.

Todos dormem.

Está tudo silencioso e escuro agora. Já é noite e todos dormem. Consegue imaginar? Bem sei que é no silêncio que as palavras surgem, saem de algum lugar dentro de nós em que elas estavam meio escondidas. Mas quase nunca você tem um papel e uma caneta para escrevê-las, então você fecha os olhos, sonha, acorda e as esquece. É engraçado ficar acordado enquanto todos dormem, você se lembra de que pela manhã ninguém para, estão sempre fazendo algo, mas à noite eles têm a necessidade de fechar os olhos e diante de tanta realidade, de tantos problemas, descansam e sonham.

21 de maio de 2011

10.

A vida é uma piada.

Tem um vazio aqui, e já comi tanto pensando que era fome, bebi bastante pensando que era sede, mas não era fome nem sede, mas sim, fome e sede. Uma fome de qualquer coisa, uma sede de sorrir, gargalhar, abraçar. E era tão grande que eu estava prestes a rasgar todo aquele cenário de idiotas, aquele desenho da multidão que não se fazia presente, aqueles rostos nos bancos sentados, e eu alí, no palco da vida, me movimentando como se estivesse em uma cadeira-de-balanço, pensando no que a vida teria para me dar — teria? tem? — e ainda me balançando na minha cadeira-de-balanço feita de plástico vinho — como era a da minha vó que se foi faz algum tempo — assistindo a vida pela janela, sendo limitada por um vidro chamado comodismo. Bem sei que um dia abro a porta e saio sem me preocupar com penteado ou maquiagem, gritando pra quem quiser ouvir, que a vida é uma piada.

09.

Verdades em mentiras.

Não fazia sentido, nem respostas tinha, mas ela sabia que a verdade não a levaria a nada, então virou sem titubear uma dose de fantasia, pra se acalmar e esquecer das coisas que machucam, das verdades que os fantasmas sussurram. No fundo ela sabia de tudo, mas preferia deixar bem lá no fundo, preferia modificar a verdade, transformá-la em mentira, mesmo que fosse apenas na sua mente isso a ajudaria a viver melhor, isso a ajudaria a viver pensando que a vida era algo mais do que ela tinha.

20 de maio de 2011

08.

O caminho e o destino.

Então a garota, já cansada de andar contra o vento, viu um senhor com um charuto na boca, sentado em um banco às margens da vida. Ela resolveu se sentar ao lado dele, a fim de descançar um pouco e saber se ele poderia responder uma de suas inúmeras perguntas sobre aquela jornada.

— Ei, senhor, essa vida cheia de compromissos, obrigações e esforço? Essa vida, aonde nos leva?
— Ao fim, minha jovem.
— E o que tem lá, senhor?
— No fim?
— Sim.
— Não há nada, querida. Não há nada.

Ela meneou a cabeça, pôs um olhar triste no rosto e voltou a andar. Não queria, não havia razão para continuar, mas ela tinha medo de parar, então andava, quem sabe mais à frente encontrasse algumas mentiras confortáveis, porque de nada lhe serviria a verdade nua, crua e cruel, de nada lhe serviria, pois não pararia de caminhar. Embora sem ânimo ela ainda acreditava — mesmo que bem pouco, quase inerte — que a vida reservava algo bom no final.

6 de maio de 2011

07.

A imagem.

Palavras sem sentido, só as entende quem não precisa dele.
Só as entende quem o cria e dá o rumo mais belo que desejar.


Era a concha, era o mar, o amor, o som que parecia vir de dentro da concha, o mesmo som do mar. Era a rosa, o vento, a chuva, a flor que perdia a doçura, as coisas que o tempo levava. A imagem que só eu entendia e que todos viam apenas como uma imagem sem sentido, mas eu sei que era a flor, o vento, a chuva, o vento levando a doçura e aquilo se repetindo mil vezes dentro de mim, porque eu entendia, eu sabia, eu via o sentido – ou o criei? Mas eu sei que era o tempo levando a beleza da flor, e a chuva como lágrimas caindo gritando o sentido que ninguém pôde ver.

06.

Miragens.

Eu disse "tchau", mas era como um adeus, porque eu estava cansada de ter que sempre destruir os planos que fazia sobre nós. E não que você tivesse culpa, na verdade era eu, sempre eu, que fazia tudo parecer um conto de fadas antes mesmo de acontecer. Era sempre eu e a minha necessidade de achar alguém que colava a imagem do garoto certo no rosto do primeiro simpático que aparecia.
Mas estou cansada, claro, estou cansada, sempre cansada, mas de que adianta? Amanhã cometerei o mesmo erro.
À noite a verdade sempre vem à tona, aquilo lá longe não é um príncipe, muito menos um sapo, é só a sua imaginação, querida, só.

05.

A viagem.

Sorridente, radiante, ela pegou as malas em cima do guarda-roupa, começou com a sua favorita, uma cor-de-rosa que ganhou da sua tia, abriu-a bem devagar, como se estivesse filmando aquele momento para que fosse lembrado para sempre.

Ela amava começos e odiava finais, mas o que importava era que aquele era o começo, o começo de uma nova vida; em outro lugar, com pessoas diferentes, tudo o que ela sempre quis. Colocava uma a uma de suas melhores roupas na mala cor de rosa, não que rosa fosse a sua cor predileta, apenas achava agradável. Ela nem conseguira dormir direito esperando o sol aparecer. Em algumas horas estava arrumada e ansiosa a espera do taxi que a levaria até o aeroporto. Despedia-se de seus poucos, e não tão presentes, amigos, de sua família da qual sentiria muito falta da sua mãe e da sua tia, abraçou a todos dizendo adeus e recebendo as palavras de sorte que eram desejadas a ela, mas ouvia com sinceridade apenas algumas.

Do taxi olhava a paisagem daquela pequena cidade, que nunca lhe enchera os olhos. A garota sentia o vento frio balançar-lhe os cabelos; e pela primeira vez sentiu ternura por aquele lugar, agora visto de forma tão amável, uma vez que ela não ficaria mais muito tempo por ali. Minutos depois ela havia chegado ao aeroporto, depois de um pouco de espera finalmente estava sentada na poltrona do avião, próxima a janela, como ela queria.

Ainda em terra firme, pensava em todas as coisas que viveu, todas as lágrimas, todo o vazio que no presente momento havia sumido, todos os sonhos, toda a rotina e a dificuldade de acordar a cada manhã, todas as músicas, todas as danças feitas na frente do espelho, todas as vezes em que cantou como se tivesse uma voz linda e como se cantasse para milhões de fãs. Ela riu de tudo isso, achava a vida engraçada e difícil, mais difícil do que engraçada, mas como estava feliz ela ria. Ria das feridas que doem, mas que com o tempo cicatrizam e então nos perguntamos: como eu pude cair desse modo?

Ela estava indo embora, da cidade, do país, da vida que tinha, e até mesmo indo embora da antiga pessoa que era. E sim, isso era o que ela queria! Mas sentada naquela poltrona, olhando pela janela a sua pequena cidade, ela deixou uma lágrima sutil rolar a face. Sentiria falta das coisas simples e chatas, ela sabia que ainda derramaria algumas lágrimas lembrando daquele lugar.

Mas precisava ir, precisava encerrar capítulos e começar outros, ela precisava voar, sonhar outros sonhos. O avião decolou e então ela viu que aquele era o começo, mas ao mesmo tempo o fim, ela sorria e derramava lágrimas, sentia duas coisas diferentes. Mas a garota se lembrou dos momentos bons que vivera, das pessoas boas que conheceu, então ela olhou pela última vez a cidade, de lá do alto, que ficava menor a cada segundo, e então ela sabia que nunca se esqueceria de nada do que viveu ali, mesmo que tudo tenha sido tão morno e monótono, ela sabia que um dia voltaria àquela pequena cidade e diria com os olhos brilhantes:
Nada mudou por aqui.

04.

Doía não ter o que só existia nos livros e filmes, mas doía mais ainda não ter o que estava ao alcance das mãos, o que era possível.

03.

Só consigo sentir um profundo cansaço, como se eu devesse apenas deixar tudo para trás, sem esforços. E dormir um sono profundo. E sonhar.

1 de maio de 2011

02.

Fantasmas da noite.

Estar sozinha é não ter ninguém por perto. Se sentir sozinha é quando não há no mundo ninguém disposto a estar por perto, a te ajudar. Certo dia, estavamos eu e os fantasmas, e eu me sentia só, pedia aos prantos para conseguir dormir o mais breve possível naquela noite, desejando que esses fantasmas que esfregam verdades racionais demais, desaparecessem. Tampava os ouvidos diante do silêncio, mas o que eu queria na verdade era não escutar o que eles sussurravam: coisas sobre a vida e sua falta de sentido, sobre como a felicidade não existia e as pessoas machucavam, coisas que eu estava cansada de saber, mas que machucavam milhões de vezes mais quando ouvidas à noite, no silêncio, no escuro, no frio e na solidão, porque misturar tudo isso com a presença absurda de perguntas e a total ausência de respostas, dói mais do que se pode imaginar.

Eu lembro que a vontade de chorar sem ter que se preocupar com os ouvidos alheios era enorme, e que eu procurava aqui dentro uma mínima resposta e não encontrava, eu imaginava coversar com alguém que na realidade eu gostaria que se importasse, mas por parte eu sentia vergonha, vergonha dessa maldita fraqueza que me invadia, dessa minha incrível capacidade de fazer da vida um drama, e de querer não existir, mas com conciência de que nem em sonho eu teria coragem de tirar a minha vida. Eu olhava pela janela do meu quarto, que dava até à grade da garagem composta por algumas partes onde se podia ver o céu, eu olhava pro azul escuro, e pedia, por favor Deus, me faça dormir e entrar em um sonho bom, um lugar melhor do que esse, com sorrisos e ausência de lágrimas, e tire todos esses fantasmas daqui, toda essa racionalização da vida, pois quero ser ignorante, quero não saber que tudo no fim pode não terminar com "e eles foram felizes para sempre", que tudo pode não ter sentido, nem valer a pena. Tentei pensar em uma vida melhor, criei meu próprio sonho já que o sono não vinha, até que acordei com o alarme do celular tocando a música "garotos" de leoni, quando na verdade eu escutava algo mais ou menos assim: acorda, a vida continua.

01.

01 de maio de 2011

Hoje é um daqueles dias vazios, em que não há nada de bom pra te animar, que você para um pouco e encontra sua vida dividida em dois lados opostos: de um lado os sonhos, as fantasias, os desejos e as ilusões que nós mesmos criamos; do outro a realidade rude, inexorável, insuportavelmente rotineira e sem surpresas, cheia de obrigações e cores próximas ao preto e branco. A fantasia é a esperança, imaginamos um futuro melhor, com mais sonhos virando realidade, e não apenas sonhos que não saem da suposição; a fantasia é pra isso, pra dar um pouquinho de cor à realidade, pra não cairmos, diante de tantos desejos não concretizados. A fantasia é o alimento da esperança, e se o ditado diz que a esperança nunca morre, a fantasia também não.