20 de novembro de 2011

39.

Apenas o que é recíproco.
Hoje sonhei que amava alguém que amava um outro alguém e senti uma dor-fictícia, não aguda, mas arrebatadora, que tirava a vontade de qualquer-coisa.
A minha sorte é que, quando atravesso a linha tênue que divide o sonho da realidade, o meu coração não é masoquista e se obriga a pôr pra fora tudo o que não é recíproco.
E pela primeira vez a realidade tinha algo melhor a oferecer.

38.


A rua estava molhada pela recente chuva e a noite estava fria e escura. Ela estava andando pela calçada do caminho quase vazio, com seus amigos igualmente silenciosos, aproveitando a música invisível do silêncio. A única coisa que podiam ouvir era o som dos próprios passos.
Elena acendeu um cigarro e voltou a guardar o isqueiro no bolso da sua jaqueta. Ela tinha os cabelos longos e castanhos que, por hora, escondiam partes do seu rosto níveo.
Fechou os olhos e lentamente expirou a fumaça do cigarro. Se sentia entorpecida, como se não só a rua estivesse quase vazia, mas também ela.
Elena era uma garota aparentemente forte e inabalável, mas tinha o amor como seu ponto fraco, por isso se mantinha longe dos sentimentos, não suportava a ideia de ter a felicidade nas mãos de um outro alguém e por isso escolheu simplesmente não tê-la.
Ela tinha a incrível habilidade de nunca deixar nada transparecer, mas sentia que o amor a tornaria fraca e incapaz de manter tudo dentro de si, fechada como achava que era seguro ser.
O que ela não sabia era que não poderia fugir do amor, ele a encontraria e por algum tempo a faria muito feliz, até ter dela tanto desejo quanto medo, medo de perder, medo de ser magoada. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde a felicidade daria lugar a dor. E esse seria o seu fim.