29 de dezembro de 2011

42 e 43.


Enquanto caminhávamos para vir aqui na casa da minha vó Maria, minha mãe me perguntou por que sempre ando olhando pro chão. E disse que eu tinha que prestar mais atenção, senão acabaria batendo nas pessoas.
Disse a ela que isso não acontecia porque sentia as coisas ao meu redor, inclusive as pessoas se aproximando - ainda que fosse esquisito -, e sempre sabia o momento de desviar delas.
Adoro ir na minha vó, mas nunca tinha andado tão depressa na minha vida como hoje.
Vinte e quatro de agosto de 1995.

Lembro que naquele dia achei muito mais que uma moeda, achei uma nota grande. Sempre acho as coisas por olhar tanto pro chão. Gosto mais de olhar pro chão que pras pessoas e ver nelas mais do que elas estão dispostas a mostrar.
Todo mundo carrega algum sofrimento dentro de si e, por mais escondido que esteja, sem querer, eu o vejo. E o sinto.
Aquele dia foi a última vez que fiz aquele caminho pra ver minha vó. Naquela noite, ela foi embora.
Por um tempo, ainda a vi em muitos dos meus sonhos e era bom porque neles ela não estava mais doente.
Eu tinha onze anos.
Hoje, ainda sinto saudades dela. Sempre sentirei.
E também ainda sinto as pessoas e seus sentimentos, e suas intenções, e seus medos, e suas dores.

13 de dezembro de 2011

41.

Um lugar onde eu pudesse flutuar.

Cansada de toda essa sujeira, desse vazio de esperança sensata, dessa feiura. Cansada dessas coisas não só encontradas nos cenários, mas principalmente nas pessoas.
Queria mesmo era morar em um lugarzinho no mundo onde houvesse muito verde e pouca tecnologia; onde as pessoas passassem o dia sorrindo, ajudando umas às outras, dançando, cantando; onde nenhuma palavra feia e grosseira fosse dita; onde houvesse muito amor.
Onde pudéssemos fechar os olhos e usar apenas os outros sentidos, por longos minutos, pela eternidade se fossemos capazes. Que a vida fosse só aquilo, como uma garota deitada na grama, olhos fechados, quase flutuando. Só isso, mais nada.

2 de dezembro de 2011

40.

Nada é tão sólido que o tempo não devore.

Não me faça promessas que envolvam eternidade, meu bem, não sem uma condição. Não diga que vai estar sempre aqui, que o que sente é eterno, mesmo que tenha convicção, o tempo devora, ouvi dizer. Cada lindo sentimento, cada lindo desejo. Amanhã pode ser que nada disso esteja aqui, mesmo que hoje tudo pareça tão sólido, tão incorruptível.