14 de julho de 2013

73.

Sobre o que existe no que não existe.

Tenho sonhado acordada com a não-existência. Você sabe, aquele estado infinito e perfeito em que não se sente ou se é coisa alguma. Pois existem os sentimentos (sensações) bons e os ruins, mas quando se aprofunda demais no segundo o não sentir começa a fazer parte do que é divino.
Temo a morte, sim, mas geralmente anseio pelo que se segue. Eu queria poder pulá-la como se pula corda
e escapa.
Meu paraíso, hoje, é o não sentir. Flutuar vazia no límpido. E não temer nada, e não esperar nada. Não haveria angústia nem coisa alguma a fazer arder o coração, nenhuma tristeza pelo que não se é ou tem, nem pelo que se tem ou é.
No nada tudo é perfeito, no nada a felicidade plena reside. E tantos tolos procurando-a mundo afora! Felicidade é não sentir.

O que vem depois da morte é ser-feliz e,
portanto,
não ser.

72.

Requiem para um mundo

Trombetas mudas
anunciam o apocalipse
e um silêncio gigante
engole a terra
e a macera

Gritos estridentes saem de vozes mudas
mães agarram seus filhos chorosos
pessoas correm nas ruas
mas nada se ouve

Porém alguns
abraçam o caos
e se tornam parte dele
se fazem enorme-silêncio
e por isso entendem tudo
que antes estava escondido