19 de outubro de 2013

76.

NA SAÍDA

Márcia era recepcionista de uma clínica de psicoterapia. Um dos pequenos prazeres de sua vida era olhar a expressão das pessoas depois de saírem da consulta. Havia essa garota, em específico, que esquecia-se que havia chorado durante boa parte da terapia e quando saia sempre se despedia das pessoas com um sorriso no rosto, porém com os olhos inchados e vermelhos. Márcia se sentia importante ao imaginar que era uma das poucas pessoas que presenciavam aquele raro momento em que o que a menina sentia e o que ela queria aparentar sentir coexistiam estampados em seu rosto, sem que ela nem percebesse. Costumava imaginar, e supor, que a menina sentia tanto que mal conseguia fazer tudo caber ali dentro sem derramar a
                                                     
                                                          tris
                                                                    te
                                                                            za
    
na 
saída.

3 comentários:

  1. Muito bom, parabéns.
    Tenho um certo hábito de olhar a expressão das pessoas, só que faço isso no trajeto de ida e volta para casa.
    Qualquer dia alguém vai me estranhar rsrsrsr

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  2. Salve os pequenos prazeres, principalmente àqueles que escondemos por supor ridículos.

    Gostei da forma no final, quando se "derramou".

    Um abraço

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  3. Você escreve com uma leveza que transparece tristeza, uma tristeza que seduz, mas que logo se transforma em beleza, e é essa beleza que me conduz aos seus textos.

    Adoraria uma visita sua ao meu blog, seria um honra

    http://leigopoeta.blogspot.com.br/

    Abraço Tiane

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