16 de março de 2014

81.


Otávio era um galo que acreditava que seu canto fazia amanhecer,
que as árvores produziam os ventos com o balançar dos galhos e folhas,
que tocar o sino da igreja fazia coisas ruins acontecerem
e que à noite chovia mais forte embaixo dos postes

Todos animais da vila discordavam gargalhando
e apesar de acharem Otávio uma ótima companhia
acreditavam-no ser louco

Até que certa noite ele foi embora
e o dia continuou nascendo
- estava lá a prova de que o sol aparecia independente dele
(os animais, em segredo, respiraram aliviados) -

mas doeu, tempo depois,
pois sem Otávio
os dias não nasciam

tão bonitos

6 comentários:

  1. O que significa vai muito além do que aparenta.

    Muito bom Tiane!

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  2. estava acompanhando seu blogue há duas semanas e resolvi te escrever; espero que não se incomode...

    gostei muito do verso "chovendo mais forte embaixo dos postes", nesses detalhes que são também perspectivas, um olhar para algo quando mais ninguém está perto... a poesia permite que a solidão não seja apenas uma beira de precipícios mas um lugar próprio para observar, algo como a dinâmica da chuva nos postes, nas madrugadas, nas ruas com ninguém por perto e é bom saber que existe vida ali...

    um abraço


    tardiamante [para tianne froés] por ramonlvdiaz

    estar nua sem o abraço da lua não impede o mysterio;
    expor a carne e dramas fax-símiles chorando minúsculo,
    sem interferir universos ausentes que teu rosto acusa;
    foz de morte difícil, precioso erro trefilando perfis
    cansados e eternos de volver domingos: não teme átimos
    que dissolvem no futuro do pretérito pretextos repletos
    de contracultura, lâminas sem teu corte ficcional na
    árdua espessura do sangue, teus caracteres cheios de
    esperança e magma, mágoas ainda nem cauterizadas com
    a temperatura estanque que não deixa teu corpo mentir.

    apreciar é perder-te e talvez petrificar no ar o que
    ainda nem quer substância...

    dispensamos suavidades na gaveta, rapazes em
    terceira pessoa e paisagens in vitro através
    de janelas mortas; não sei voar mas tua queda
    é real: uma magia que é feita de horas árduas,
    de noites que não sabe dormir e dum amor que
    custa acordar ao teu lado...

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  3. Incansavelmente li e reli, sou agora uma indiscreta admiradora de Otávio, o incontingente.

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  4. que lindo, Tiane!

    algumas faltas só são notadas na ausência...

    beijinho

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