1 de março de 2012

55.

Fim do dia.

Atravesso mais um dia cheio, sem perder o vazio de sempre, é claro. Estou indo pra casa.
Veículo  vento  frio.
Engraçado, mas sinto como se algo fosse acontecer bem agora.
O céu está azul, ou violeta, não sei. Está anoitecendo.
Vejo rostos passarem rápido  casas, ruas, vidas. Engraçado, mas sinto como se algo fosse acontecer bem agora. Como se um meteoro fosse cair logo a frente, como se o céu fosse se abrir e cavaleiros descerem dele, como se em um piscar de olhos eu fosse sumir, como se nunca tivesse feito parte desse cenário, ou até mesmo como se o cenário fosse mudar de repente, como se ele sempre estivesse lá.
Calor  cansaço  desejos. Engraçado, mas sinto como se algo fosse acontecer bem agora.
Mas nada acontece, você sabe. E assim são as minhas noites, manhãs e tardes: Um amontoado de horas em que nada vem.
Nada acontece. Nada acontecerá.
As pessoas estão caminhando para algum lugar agora e eu (nesse veículo controlado por um estranho) tento imaginar o que está se passando na mente de cada um ao meu redor:
O homem cantando e ouvindo música no carro cinza. A mulher esperando a hora certa de atravessar a rua. Três pessoas em um carro para apenas duas. O homem na bicicleta. A mãe e o menino.
Cada vida um universo,
cada universo uma dor.
Engraçado, mas sinto como se algo fosse acontecer bem agora. Já disse isso? Que seja.
Mas nada desceu do céu, nenhum meteoro, nenhuma explosão.
É apenas mais um dia — cheio e ao mesmo tempo imensamente vazio  que chega ao fim
para amanhã recomeçar.

4 comentários:

  1. Lindo texto. Muitíssimo bem escrito. Não sou de basear minhas críticas meramente em elogios que nada dizem sobre o texto, mas tão só alimentam o ego do autor. Porém a arquitetura de como as palavras se dispõem é admirável. Gostei mesmo.

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    1. Obrigada, Jorge. Tento sempre dar o melhor de mim nos textos, acho que é um jeito de diminuir a tristeza: transformando-a em algo que suponho belo. Fico mais feliz ainda quando alguém gosta, me deixa motivada. Muito obrigada. Volte sempre, espero suas críticas se necessárias.

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  2. Tiane, minha querida, não nos deixe tanto tempo sem algo novo.

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  3. Olá, Jorge. Gostaria muito de escrever algo novo, mas não é minha escolha, sou escritora de fases, às vezes não escrevo quase nada, às vezes escrevo muito; esse começo de ano eu escrevi bastante comparado ao ano passado, fiquei até assustada. Acho que agora está chegando a seca, mas continuarei tentando, não me esqueça.

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