28 de maio de 2013

71.

A infância escondida na parede.

Se aquela parede áspera e branca da infância ainda não foi derrubada, em algum lugar, agora, embaixo de mãos e mãos de tinta, estão as impressões deixadas com tinta de mãos e mãos;
em algum lugar, agora, está a minha inocência adormecida, bem pequena, escondida em tinta vermelha, juntamente com várias outras inocências também guardadas em impressões de pequenos polegares, anelares  e outros que se saúdam e também se vão.
Desenhos com formas que adulto algum possa reconhecer se escondem lá!
A camada funda da parede que me guarda inocente, guarda também, em sua lembrança parca de objeto inerte, uma única imagem, na qual crianças bem pequenas com seus aventais coloridos tentam desenhar na parede áspera e branca do lugar, um mundo todo bonito
que jamais existiu.

5 comentários:

  1. É tocante e triste lembrar da infância e de como ela se foi. E mais ainda ao julgar que não aproveitamos devidamente essa pureza justamente por que nada sabíamos.
    Belo texto!

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  2. Que modo bonito de falar de uma lembrança. Tiane, você tem "o toque".

    Abraço

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  3. “O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
    Pondo grelado nas paredes...
    O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
    lágrimas),
    O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
    É terem morrido todos,
    É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
    Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...”

    Lembrou-me desse comovente poema de Fernando Pessoa (trechos), Tiane, intitulado Aniversário. Se possível confira-o na integra, comunga desses mesmos sentimentos seus carregados de doce melancolia.

    http://apoesiaestamorrendo.blogspot.com.br/

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  4. Só não deixe que a tinta preta, manche com essa lembranças.

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  5. "Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais..." - Belchior, cantor.

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