5 de julho de 2011

28.

"O quarto continua silencioso enquanto nós
todos tentamos lembrar tão dificilmente
como é se sentir vivo."

Lágrimas e espelhos.

Estava eu pensando, em uma noite de terça, enquanto o cansaço e a melancolia me abraçavam, entre lágrimas silenciosas e palavras estridentes que a boca não dizia, mas a mente gritava:

Meus dias são entediantes e cinzentos como retratos esquecidos que não relembram momento algum. Me olho no espelho e lágrimas caem, lágrimas vazias e que, apesar de serem líquidas, representam o caminho seco em que estou. Quando, de vez em quando, o otimismo bate a porta, penso que dias assim acabarão, que tudo vai passar, que algo bom haverá de acontecer em breve; outrora imagino que daqui a muitos anos me olharei em um espelho como esse e derramarei lágrimas secas e vazias como essas, meus cabelos apresentarão fios grisalhos e minha pele não será mais tão bela.

No espelho a minha imagem, a qual não reconhecerei facilmente. "O tempo passou", pensarei, mas não lembrarei de tê-lo sentido. A mulher no espelho me olhará e perguntará com deboche: "Ora, ora, mas o que fizestes da vida, minha querida? Que história tens a contar-me?" Mas nada sairá dos meus lábios, pois estarei a procura, por entre as paredes da memória, de alguma aventura ou amor veemente, mas só haverão uns poucos quadros agradáveis que com o tempo se tornaram entendiantes.

Coisa alguma eu responderei em pensamento – coisa alguma tenho para contar, coisa alguma vivi, e me parece que se passaram apenas alguns minutos desde quando eu pensei que tudo ficaria bem, mas os dias voaram e junto com eles os meses e os anos. E aqui estou eu no começo-do-fim do que nunca tive a coragem de realmente começar: A vida. Nunca gostei de desfechos, talvez porque no fundo sempre soubesse que, diferentemente dos filmes, a vida não reserva algo bom no final.

Nenhum comentário:

Postar um comentário