31 de outubro de 2011

37.

Quando chorar é melhor que sorrir.

Um espelho de moldura dourada em um quarto com paredes branco neve.
Nada mais. Sem detalhes. É isso que tenho sido desde o dia o qual não sei ao certo.
Me perdi, devo confessar, estou cada vez mais distante do que sou, entretanto, não estou distante do que quero... Não mais do que sempre estive.
Digo, com uma branda sinceridade, que é horrível ser esse espelho e aqui vai um conselho: nunca o seja. Larguei de lado minha bela tristeza e solidão. Certa noite esperei pelas palavras e elas não vieram, procurei as lágrimas e não as achei. No começo cheguei a pensar que talvez aquilo fosse um bom sinal, que as coisas estavam, naturalmente, tomando um rumo mais agradável.
Depois de uns dias queria de volta as minhas palavras tristonhas, meus sentimentos tão belos como uma canção de ninar. Percebi que a vida, do jeito era, não era triste nem feliz, mas vazia e não-bela, disfarçadamente vazia, sem objeções, sem desejos. E aos poucos, sem perceber, vim parar dentro deste espelho.
Quando chega a noite lembro-me que a cada segundo do dia eu estava a ser apenas o reflexo patético das pessoas que passaram por esse quarto com paredes branco neve, e tento todos os dias ser como uma flor simples e bela dentro de um jarro em cima de uma mesa de madeira antiga, lembrando sempre, com olhos úmidos, que a falta d’água ainda irá por deixar-me murcha, mas tendo a certeza de que sou o que sou, linda e tristonha, chafurdada em sonhos...

Eu, uma flor.

Um comentário:

  1. Não chorar é o pior dos sinais, melhor viver na poesia de uma tristeza, que no vazio, na ausência de tudo e de si mesma. Belas palavras flor, frases tão cheias de caminhos, que me pergunto se entendi o que deveria.
    bjs.

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