24 de julho de 2012

62.

Debussy, Clair de lune by Claude Debussy on Grooveshark
Sublimação.

O corpo desajeitado, a cabeça apoiada na mão e os olhos entreabertos era seu sinal de desistência.
A mente estava cansada de trabalhar pra fazer tudo parecer menos ridículo e rude, já era claro demais pra fingir-se não ver, já era tarde demais pra fingir-se não crer no que era real e abraçar um sonho, um devaneio, uma linda mentira em veludo.
E nenhuma canção era forte o bastante pra quebrar o gosto do real-imutável e repugnante, nenhuma palavra, nenhuma lanterna na escuridão, nenhum silêncio.
E doía ter que aceitar que talvez a vida seria sempre aquilo, mais nada. Aquele barulho indesejado, aquelas palavras pesadas, aquela multidão indo pra lugar nenhum pensando estar indo para algum lugar.
***
 Dizem que eu deveria ter nascido em uma estrela.
 E o que você faria morando em uma estrela? É um lugar pequeno, só caberia você.
 Eu dançaria ao som de um prelúdio, feito a bailarina da caixinha de música.
 Chopin?
 Debussy.
 E a vida seria apenas isso?
 Ahh... E só isso sendo seria tão mais do que o que tenho nas mãos.

4 comentários:

  1. Por vezes, é inevitável o desejo de sublimar, ser apenas quem não se é.
    Também amo Debussy!

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    1. Ou quem se é, mas o mundo não permite mostrar.
      Obrigada pela visita.

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  2. Final surpreendente. Para alguns, dizem que quando não soubermos pra onde ir, não devemos nos mover. Eu gosto de pensar o contrário. Que temos que pensar mais nas soluções que nos problemas, que temos que sair do lugar, mesmo tropeçando ou caindo mais uma vez. Temos que procurar uma estrela pra gente morar, e tem estrelas que podem ser grandes, que podem caber invés da caixa de música, a orquestra inteira. Temos mesmo com a cabeça cansada, os pés, sair um pouco de dentro da gente, pensamos que dentro de nós mesmos nada pode nos atingir, e penso, que pode ser esse o erro. Dentro de nós nunca é seguro o suficiente, se fosse, a dor não existiria destruindo paredes. Temos que caminhar, batermos de porta em porta, se não abrir, é que não é a sua ainda. Continue batendo, quando abrir, pode ter certeza, que é pra você entrar. Então entre, acenda as luzes e mande mesmo que temporariamente a dor embora junto com a escuridão, mande bater em outra porta, e sabe, lugares grandes podem sobrar espaço, mas não falta, caso uma coisa muito boa queira entrar e fazer parte da sua estrela, precisa de espaço, e esse espaço precisa existir pra ser ocupado por coisas boas, quando forem a hora. Dois beijos, estrela. Bom te encontrar novamente por aqui.

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  3. Perfeito, fez uma onda de frio correr pela minha espinha.

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