4 de dezembro de 2015

96.

Assombros


Te fiz em poema
Projetei em você as flores e passarinhos
O mistério e a morada
Tudo o que eu precisava para me sentir verso
E rima

Peguei fantasma alheio
E batizei como se fosse filho
De uma grande história
De um grande reino

Era mentira
Sempre foi
e eu sabia

Mas já se apagam da minha memória
Os rostos dos heróis covardes
que moravam em meus devaneios
Bem nítido, porém, permanecem
As imagens dos monstros
que enfrentei
Sem armadura
E sem fé divina

De todos os assombros
Talvez o maior
Seja essa sensação
de que nada disso importa
de que ainda sou a mesma
de que me toma o corpo, essa fraqueza 

De todos os monstros
Talvez o maior
Seja esse verme
Que me habita a alma
E come as paredes

3 comentários:

  1. é muito difícil (e bonito) saber onde a poesia como um sistema de grandes pensamentos inicia no autor, promovendo todos os gatilhos -- onde este olhar exige a si mesmo (e exige do autor) -- que ele continue a investigar sua intimidade (e saber ali, de sua frágil precariedade) para tentar ultrapassar com todos os códigos conhecidos, com toda ciencia aprendida e inventada, com a imaginação as vezes tão próxima ao delírio e uma fé estranha, feita quase toda de dúvida.

    sim a poesia cifra, decifra e devora... o rastro que fica nao parece que pertence propriamente a nós outros: pertence a ninguém.

    um abraço

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  2. Que poema maravilhoso! Gostei muuuuuuito.
    Tem uma dor, mas é tão belo.

    http://viagem-a-terra-do-nunca.blogspot.com.br/

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