Assombros
Te fiz em poema
Projetei em você as flores e passarinhos
O mistério e a morada
Tudo o que eu precisava para me sentir verso
E rima
Peguei fantasma alheio
E batizei como se fosse filho
De uma grande história
De um grande reino
Era mentira
Sempre foi
e eu sabia
Mas já se apagam da minha memória
Os rostos dos heróis covardes
que moravam em meus devaneios
Bem nítido, porém, permanecem
As imagens dos monstros
que enfrentei
Sem armadura
Sem armadura
E sem fé divina
De todos os assombros
Talvez o maior
Seja essa sensação
de que nada disso importa
de que ainda sou a mesma
de que me toma o corpo, essa fraqueza
De todos os monstros
Talvez o maior
Seja esse verme
Que me habita a alma
E come as paredes
é muito difícil (e bonito) saber onde a poesia como um sistema de grandes pensamentos inicia no autor, promovendo todos os gatilhos -- onde este olhar exige a si mesmo (e exige do autor) -- que ele continue a investigar sua intimidade (e saber ali, de sua frágil precariedade) para tentar ultrapassar com todos os códigos conhecidos, com toda ciencia aprendida e inventada, com a imaginação as vezes tão próxima ao delírio e uma fé estranha, feita quase toda de dúvida.
ResponderExcluirsim a poesia cifra, decifra e devora... o rastro que fica nao parece que pertence propriamente a nós outros: pertence a ninguém.
um abraço
Tiane, sempre linda, trágica.
ResponderExcluirQue poema maravilhoso! Gostei muuuuuuito.
ResponderExcluirTem uma dor, mas é tão belo.
http://viagem-a-terra-do-nunca.blogspot.com.br/