6 de maio de 2011

05.

A viagem.

Sorridente, radiante, ela pegou as malas em cima do guarda-roupa, começou com a sua favorita, uma cor-de-rosa que ganhou da sua tia, abriu-a bem devagar, como se estivesse filmando aquele momento para que fosse lembrado para sempre.

Ela amava começos e odiava finais, mas o que importava era que aquele era o começo, o começo de uma nova vida; em outro lugar, com pessoas diferentes, tudo o que ela sempre quis. Colocava uma a uma de suas melhores roupas na mala cor de rosa, não que rosa fosse a sua cor predileta, apenas achava agradável. Ela nem conseguira dormir direito esperando o sol aparecer. Em algumas horas estava arrumada e ansiosa a espera do taxi que a levaria até o aeroporto. Despedia-se de seus poucos, e não tão presentes, amigos, de sua família da qual sentiria muito falta da sua mãe e da sua tia, abraçou a todos dizendo adeus e recebendo as palavras de sorte que eram desejadas a ela, mas ouvia com sinceridade apenas algumas.

Do taxi olhava a paisagem daquela pequena cidade, que nunca lhe enchera os olhos. A garota sentia o vento frio balançar-lhe os cabelos; e pela primeira vez sentiu ternura por aquele lugar, agora visto de forma tão amável, uma vez que ela não ficaria mais muito tempo por ali. Minutos depois ela havia chegado ao aeroporto, depois de um pouco de espera finalmente estava sentada na poltrona do avião, próxima a janela, como ela queria.

Ainda em terra firme, pensava em todas as coisas que viveu, todas as lágrimas, todo o vazio que no presente momento havia sumido, todos os sonhos, toda a rotina e a dificuldade de acordar a cada manhã, todas as músicas, todas as danças feitas na frente do espelho, todas as vezes em que cantou como se tivesse uma voz linda e como se cantasse para milhões de fãs. Ela riu de tudo isso, achava a vida engraçada e difícil, mais difícil do que engraçada, mas como estava feliz ela ria. Ria das feridas que doem, mas que com o tempo cicatrizam e então nos perguntamos: como eu pude cair desse modo?

Ela estava indo embora, da cidade, do país, da vida que tinha, e até mesmo indo embora da antiga pessoa que era. E sim, isso era o que ela queria! Mas sentada naquela poltrona, olhando pela janela a sua pequena cidade, ela deixou uma lágrima sutil rolar a face. Sentiria falta das coisas simples e chatas, ela sabia que ainda derramaria algumas lágrimas lembrando daquele lugar.

Mas precisava ir, precisava encerrar capítulos e começar outros, ela precisava voar, sonhar outros sonhos. O avião decolou e então ela viu que aquele era o começo, mas ao mesmo tempo o fim, ela sorria e derramava lágrimas, sentia duas coisas diferentes. Mas a garota se lembrou dos momentos bons que vivera, das pessoas boas que conheceu, então ela olhou pela última vez a cidade, de lá do alto, que ficava menor a cada segundo, e então ela sabia que nunca se esqueceria de nada do que viveu ali, mesmo que tudo tenha sido tão morno e monótono, ela sabia que um dia voltaria àquela pequena cidade e diria com os olhos brilhantes:
Nada mudou por aqui.

2 comentários:

  1. Tá contando a minha história, é? Hahaha passei pelo mesmo, amei. Muito, de verdade <3

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  2. Seu texto me fez me despedir dos entes queridos. Me fez entrar no taxi. Me fez me sentar na poltrona do avião. Me fez sorrir e chorar. Me fez estar e partir. Me fez terminar e começar uma nova história. Me fez viver cada palavra escrita por ti.

    Excelente.

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