21 de fevereiro de 2012

52.

Herança.

Não, meu bem, não chore. Olhe pra mim, me escute:
Vai ser difícil sem mim, eu sei, mas acho que nesse tempo em que passamos juntos você aprendeu comigo e minhas manias esquisitas que a realidade não precisa ser sempre realidade e a fantasia muito menos.
Acorde amanhã e lembre-se de mim (de nós) como um sonho bom que você teve essa madrugada. E depois levante, olhe a barba no espelho como você faz todas as manhãs, tome um banho, ponha a sua roupa favorita e vá viver, depressa. O que você tem nas mãos - e que está se esvaindo da minha agora - é único, não existe nada antes ou depois disso, então aproveite o quanto puder. A vida é o que você faz dela. Faça algo bom da vida, querido.
O segredo da imortalidade é não morrer nos corações, nas mentes e nas palavras de cada geração, eu não consegui ser imortal, mas você pode ser: se tentar bastante. Mesmo quando a fé e a esperança pareçam ter sumido, acredite, nada é mais difícil de ir do que a esperança, ela sempre está lá, procure bem. Seja forte, embora isso não seja possível todos os dias, todas as horas, mas tente. Você não vai conseguir nada se não praticar essa coisa de nome tão pequeno, mas de uma dificuldade considerável: Ten-tar.
Você pode escolher ser imortal, mas não esqueça do mais importante (e sim, clichê): Ser feliz.
Pausou.
Agora preciso ir ser nada em lugar algum, e você precisa ser algo bem aqui - disse estendendo uma mão delgada para acariciar o rosto dele -, bem agora.
Então seja.
E fechou os olhos para a vida abrindo os olhos para o não-ser. E foi, foi ser nada em algum cantinho de lugar algum; sem dores e agora, só agora, sem esperança.

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